29 outubro 2010

MEC repudia declarações do candidato José Serra sobre o ENEM

o Ministério da Educação lamenta profundamente que a cerca de 20 dias da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que movimentará sonhos e aspirações de 4,6 milhões de estudantes em todo o país, o assunto seja tratado de forma leviana pelo candidato à Presidência da República José Serra.

O candidato de oposição ao atual governo anunciou que quer acabar com o novo ENEM, um projeto construído pela rede federal de educação superior, com a participação das 59 universidades federais e dos 38 institutos federais de educação, ciência e tecnologia, em todo o país.

Após a reformulação do exame, a rede decidiu abandonar o vestibular tradicional em proveito de um sistema democrático de acesso à educação superior pública de qualidade. Este ano, a rede oferecerá mais de 83 mil vagas, preenchidas exclusivamente pelo ENEM, além das 140 mil bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni).

Desde 2004, os partidos de oposição, por meio do Partido Democratas (DEM), tentam junto ao Supremo Tribunal Federal a declaração de inconstitucionalidade do ProUni, que tem o ENEM como principal porta de entrada e já beneficiou mais de 700 mil jovens estudantes de baixa renda.

O candidato José Serra partidariza uma discussão que sempre foi tratada de forma suprapartidária pelo Ministério da Educação. O novo ENEM foi elogiado por parlamentares de diversos partidos, inclusive do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), tanto da Câmara dos Deputados quanto do Senado Federal. É lastimável que o candidato agora se valha de um crime cometido contra o Estado e apurado pela Polícia Federal para partidarizar o debate sobre Educação.

Fonte: http://portal.mec.gov.br/

Reitores criticam declaração do candidato José Serra

Os reitores de diversas Universidades Federais também se posicionaram contra a declaração do candidato José Serra acerca do ENEM. O reitor da UNILA, Hélgio Trindade, declarou que, “como ex-presidente da Comissão Nacional de Avaliação (CONAES) e atual Reitor da UNILA, manifesto meu repúdio e solidariedade ao MEC diante da posição do candidato José Serra sobre o ENEM. A aprovação pelo Congresso Nacional, em 2005, da Lei do SINAES, pela qual foi instituido o ENEM associado à avaliação institucional e dos cursos, foi um avanço indiscutível sobre o antigo 'provão'. Nos últimos anos, o ENEM se consolidou como uma importante ferramenta para orientar a qualidade do ensino médio, selecionar os alunos bolsistas do PROUNI e a forma mais democrática e inclusiva no acesso dos alunos às universidades, adotado integralmente pela UNILA”.

A reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Malvina Tuttman, condenou a declaração do candidato e afirmou serem inconsistentes as afirmações de Serra. “Enquanto uma das representantes da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) no Comitê de Governança do ENEM, reafirmo a total lisura do Exame e o comprometimento e seriedade do Ministério da Educação em todas as fases do processo, desde a sua concepção, passando pela realização até a divulgação dos resultados. Importante ressaltar, ainda, a importância do ENEM para a democratização do acesso de jovens que, em muitos casos, foram historicamente excluídos das possibilidades de ingresso nas instituições federais de educação superior”.

Outro reitor a manifestar apoio ao exame foi Walter Manna Albertoni, reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A experiência da Unifesp em ter participado da primeira edição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), sistema que selecionou os candidatos por meio da nota do ENEM 2009, foi extremamente positiva, pois permitiu que os melhores candidatos com as melhores notas fossem selecionados, além de ampliar as possibilidades de mobilidade acadêmica”.

O reitor da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), Carlos Eduardo Cantarelli Wilson, destacou a importância do Exame para a mudança dos processos seletivos das universidades federais. “Já estava mais do que na hora de alterar a forma de acesso à educação superior pública no país e o ENEM responde a essa necessidade”.

O reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), uma das novas universidades criadas neste governo, Dilvo Ristoff, também destacou os avanços do ENEM como forma de seleção. “O ENEM de hoje – não o do tempo em que o candidato Serra foi governo – é um poderoso instrumento para orientar o ensino médio brasileiro e por isso tem tido excelente receptividade junto às universidades federais. A Universidade Federal da Fronteira Sul tem utilizado exclusivamente o ENEM em seu processo seletivo e continuará a fazê-lo nos próximos anos porque o exame substitui com muitas vantagens o vestibular tradicional”.

Outros reitores também manifestaram apoio ao ENEM: Luiz de Sousa Santos Júnior, da Universidade Federal do Piauí; Antonio Cesar Goncalves Borges, da Universidade Federal de Pelotas; Luiz Cláudio Costa, da Universidade Federal de Viçosa; Maria Beatriz Luce, da Universidade Federal do Pampa; Miriam da Costa Oliveira, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre; João Carlos Cousin, da Universidade Federal do Rio Grande; Carlos Alexandre Netto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Natalino Salgado Filho, da Universidade Federal do Maranhão; Maria Lúcia Cavalli Neder, da Universidade Federal de Mato Grosso; Antonio Nazareno Guimarães Mendes, da Universidade Federal de Lavras e Amaro Henrique Pessoa Lins da Universidade Federal de Pernambuco.

Com Assessoria de Comunicação Social do MEC

21 outubro 2010

Metrô de SP e as inacreditáveis promessas de Serra

Uma das promessas mais repetidas pelo tucano José Serra no horário eleitoral é a de construir 400 km de metrô nas capitais brasileiras. O eleitor precisa desconfiar. Em São Paulo, quando governador, não fez quase nada nesse importante meio de transporte urbano.

Quando os tucanos assumiram o governo de São Paulo, em 1995, o metrô tinha 43,4 quilômetros de extensão. Desde então, até 2010, ganhou mais 18,9 e chegou a 62,3 quilômetros. Isso dá menos de quilômetro e meio por ano!

Quando as linhas Amarela (Linha 4) e o prolongamento da verde (Linha 2) forem inaugurados, chegará a 78 quilômetros. Mas isto ainda está longe de acontecer: com Serra no governo foram inaugurados apenas alguns trechos da Linha Verde e um pequeno trecho, incompleto, da Linha Amarela (entre a Avenida Paulista e a Avenida Faria Lima).

Nesse ritmo, o metrô de São Paulo só vai alcançar 200 quilômetros no final do século, em 2070! Um levantamento feito na Assembleia Legislativa de São Paulo mostra que a construção está atrasada e insegura, ocorrendo acidentes graves, como o de janeiro de 2007 quando a futura estação Pinheiros desabou.

É um enorme descaso em relação ao meio de transporte mais usado em São Paulo, que reflete a mentalidade "empresarial" que domina o modo de governar dos tucanos e que só valoriza os aspectos financeiros em detrimento do atendimento às obrigações do Estado.

Entre as grandes capitais do mundo, o metrô de São Paulo é o mais lotado e chega a transportar quase dez passageiros por metro quadrado. Os usuários paulistanos sabem o sufoco que isso significa. Os usuários de outros estados podem desenhar no chão um quadrado de um metro de lado e colocar dez pessoas dentro, e ver o aperto que fica! É muito acima do padrão recomendável, que é quatro passageiros por metro quadrado. José Serra, pelo visto, não anda de metrô!

Ainda em relação ao metrô de São Paulo há outras coisas de que o tucano José Serra não fala:

1) a imprensa esteve cheia, nos últimos anos, de denúncias de pagamento de propinas e outras irregularidades. Uma delas envolve o suborno, pela empresa Alstom (fabricante de vagões ferroviários) a funcionários do governo de São Paulo, para vencer licitações. Isto está sendo investigado, em São Paulo, pelo Ministério Público Federal e Estadual, e na Suíça (onde fica a sede da Alstom) pela justiça de lá.

2) O custo de construção do metrô de São Paulo é extraordinariamente alto. em Madrí (Espanha), que construiu 40 quilômetros de metrô entre 1995 e 2003, o custo foi de 42 milhões de dólares por quilômetro. Em São Paulo, o custo é cinco vezes e meia maior, chegando a 229 milhões de dólares por quilômetro!

3) A manutenção do metrô piorou e as paradas de trens por problemas mecânicos se tornaram frequentes, chegando ao absurdo de acontecer uma colisão de trens, em 25 de novembro de 2009.

4) A tarifa do metrô de São Paulo é dez vezes mais cara do que no México e cinco vezes mais cara do que em Buenos Aires.

5) O governo do privatizante José Serra entregou a administração da Linha 4 (Amarela) para a empresa privada ViaQuatro, fazendo aumentar em cascata a tarifa dos outros transportes públicos interligados ao metrô. Além disso os reajustes das tarifas passaram a ocorrer anualmente; antes eram feitos a cada dois anos.

Dá para acreditar nas promessas do tucano José Serra?

14 outubro 2010

“Anticonceptivos para no abortar, educación sexual para decidir, aborto legal para no morir”.

Mais de 3000 mulheres cantavam e dançavam para aborto legalOutubro 2010
 
O festival organizado pela Campanha Nacional pelo Aborto Legal, Seguro e gratuito atraiu milhares de activistas que apreciou o ritmo do Sentenced to Success, Karla Lara e Atitude Maria Marta. Atividades continuam hoje, com mais oficinas, a marcha tradicional e rock.
Alberdi Praça (mais conhecido como Fogo) foi o palco do festival de massas "canta e dança para o aborto legal", no XXV Encontro Nacional de Mulheres. Desde a tarde de milhares de mulheres vieram para a feira que, espontaneamente, acompanhou o show musical.
Passado 20 e com uma banda local começou o concerto. O condenado ao sucesso (feminista grupo Frente Popular Darío Santillán) mexeu com o clima com suas palavras de ordem para o aborto legal.
A resistência hondurenha e feminista, Karla Lara, desde a emoção da luta pelos direitos das mulheres. Movido subiu ao palco e explicou que, em Honduras, o direito ao aborto não pode sequer discutido, celebrando a luta de mulheres na Argentina.
O encerramento foi feito pelo hip hop do grupo Actitud Maria Marta, fazendo dançar e pular para a 3000 mulheres que enchiam a praça. Completando o festival, dezenas de mulheres no palco de rap junto com os cantores e Karla Lara: "Contracepção sem aborto, educação sexual para decidir, o aborto legal para evitar a morte."
Hoje, a partir de 9 lojas continuam a chegar às conclusões a ser lido amanhã. Durante o almoço, será realizada a Mesa da América Latina, onde ativistas de diferentes países vão compartilhar suas experiências sobre a situação dos direitos das mulheres em cada localidade. Nas ruas do Paraná, 19, será o cenário do progresso da reunião, para coroar com uma pedra de grande valor cultural e artística na Berduc Park.

Fátima Oliveira: "Tirem as mãos dos nossos ovários"

Fátima Oliveira,  no blog Viomundo:

“Isso aqui”, o Brasil, não é um colônia religiosa, não é um Reino e nem um Império, é uma República! Dado o clima do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, parece que as urnas vão parir uma Rainha ou um Rei de Sabá, uma Imperatriz ou um Imperador, que tudo pode, manda em tudo e que suas vontades e ideias, automática e obrigatoriamente, viram lei! Não é bem assim…

Bastam dois neurônios íntegros para nos darmos conta que o macabro leilão de ovários (com os ovários de todas as brasileiras!), em que o aborto virou cortina de fumaça, objetiva encobrir o discurso necessário para o povo brasileiro do que significa, timtim por timtim, eleger Dilma ou Serra.

No tema do aborto a tendência mundial é, no mínimo, o aumento dos permissivos legais, que no Brasil são dois, desde 1940: gravidez resultante de estupro e risco de vida da gestante. Pontuando que legalização do aborto ou o acesso a um permissivo legal existente não significa jamais a obrigatoriedade de abortar, apenas que a cidadã que dele necessitar não precisa fazê-lo de modo clandestino, praticando desobediência civil e nem arriscando a sua saúde e a sua vida, cabe ao Estado laico e democrático colocar à disposição de suas cidadãs também os meios de acessar um procedimento médico seguro, como o abortamento.

Negá-lo, como tem feito o Brasil, que se gaba de possuir um dos sistemas de saúde mais badalados do mundo que garante acesso universal a todos os procedimentos médicos que não estão em fase de experimentação, é imoral, pois quebra o princípio do acesso universal do direito à saúde! Eis os termos éticos para o debate sobre o aborto numa campanha eleitoral. Nem mais e nem menos!

Então, o que estamos assistindo nas discussões do atual processo eleitoral é uma disputa para ver quem é a candidatura mais capaz de desrespeitar os princípios do SUS, pasmem, em nome de Deus, num Estado laico! Ora, quem ocupa a presidência da República pode até ser carola de carteirinha, mas para consumo pessoal e não para impor seus valores para o conjunto da sociedade, pois a República não é sua propriedade privada!

Repito, não podemos esquecer que isso aqui, o Brasil, é uma República que se pauta por valores republicanos a quem todos nós devemos respeito, em decorrência, não custa nada dizer às candidaturas que limitem as demonstrações exacerbadas de carolice ao campo do privado, no recesso dos seus lares e de suas igrejas, pois não estão concorrendo ao governo de um Estado teocrático, como parece que acreditam. Como cidadã, sinto-me desrespeitada com tal postura.

As opções religiosas são direitos pétreos e questões do fórum íntimo das pessoas numa democracia. Jamais o norte legislativo de uma Nação laica, democrática e plural. Para professar uma fé e defendê-la é preciso liberdade de religião, só possível sob a égide do Estado laico, onde o eixo das eleições presidenciais é a escolha de quem a maioria do povo considera mais confiável para trilhar rumo a um país menos miserável, de bem-estar social, uma pátria-mátria para o seu povo.

Ou há pastores/as e padres que insistem em ignorar a realidade? “Chefe religioso” ignorante de que a sua religião necessita das liberdades democráticas como do ar que respiramos, não merece o lugar que ocupa, cabendo aos seus fiéis destituí-los do cargo, aí sim em nome de Deus, amém!

O leilão de ovários em curso resulta de vigarices e pastorices deslavadas, de má-fé e falta de escrúpulos que manipulam crenças religiosas de gente de boa-fé para enganá-las, como a uma manada de vaquinhas de presépio, vaquejadas por uma Madre Não Sei das Quantas, cristã caridosa e reacionária disfarçada de santa, exemplar perfeito de que pessoas desse naipe só a miséria gera. Num mundo sem miséria, madres lobas em pele de cordeiro são desnecessárias e dispensáveis. É pra lá que queremos ir e o leilão de ovários quer impedir!

Quem porta uma gota de lucidez tem o dever, moral e político, de não permitir que a escória fundamentalista de qualquer religião, que faz da religião um balcão de negociatas que vende Deus, pratica pedofilia e fica impune e ainda tem a cara de pau de defender a impunidade para pedófilos e os acoberta desde os tempos mais remotos, nos engabele e ande por aí com uma bandeja de ovários transformando a escolha de quem presidirá a República num plebiscito pra definir quem tem mais mão de ferro pra mandar mais no território do corpo feminino!

Cadê a moral dessa gente desregrada para querer ditar normas de comportamento segundo a sua fé religiosa para o conjunto da sociedade, como se o Brasil fosse a sua “comunidade religiosa”? Ora, qualquer denominação religiosa em terras brasileiras está também obrigada ao cumprimento das leis nacionais, ou não? Logo o que certas multinacionais da religião fizeram no processo eleitoral 2010 tem nome, chama-se ingerência estrangeira na soberania nacional. E vamos permitir sem dar um pio?

Diante dessa juquira (brotação da mata pós-desmatamento), onde só medrou urtiga e cansanção, cito Brizola, que estava coberto de razão quando disse: “O Brasil é um país sem sorte”, pois em pleno Século 21 conta com candidaturas presidenciais (não sobra uma, minha gente!) reféns dos setores mais arcaicos e feudais de algumas religiões mercantilistas de Deus.

É hora de dar um trato ecológico na juquira que empana os ideais e princípios republicanos, fora dos ditames da “moderna” agenda verde financeira neoliberal da “nova política”, que no Brasil é infectada de carcomidas figuras, que bem sabemos de onde vieram e pra onde vão, se o sonho é fazer do Brasil um jardim de cidadania, similar ao que Cecília Meireles tão lindamente poetou.

“Quem me compra um jardim com flores?/ borboletas de muitas cores,/ lavadeiras e passarinhos,/ ovos verdes e azuis nos ninhos?/ Quem me compra este caracol?/ Quem me compra um raio de sol?/ Um lagarto entre o muro e a hera,/ uma estátua da Primavera?/ Quem me compra este formigueiro?/ E este sapo, que é jardineiro?/ E a cigarra e a sua canção?/ E o grilinho dentro do chão?/ (Este é meu leilão!)” [Leilão de Jardim, Cecília Meireles].

Em 2010 em nosso país o que está em jogo é também a luta por uma democracia que se guie pela deferência à liberdade reprodutiva e que considere a maternidade voluntária um valor moral, político e ético, logo respeita e apoia as decisões reprodutivas das mulheres, independente da fé que professam. Nada a ver com a escolha de quem vai mandar mais no território dos corpos das mulheres! Então, xô, tirem as mãos dos nossos ovários!

Católicas denunciam uso eleitoral da questão do aborto

Em nota, a ONG Católicas Pelo Direito de Decidir se posicionou sobre a recente polêmica suscitada pelo aborto no debate da sucessão presidencial. Segundo o documento, "No presente momento, nossa democracia está sendo vergonhosamente desrespeitada. Setores conservadores estão usando um discurso pseudo-religioso, totalmente baseado em falsos moralismos, para influenciar de forma ilegítima o processo eleitoral. "

Católicas pelo Direito de Decidir se manifestam em defesa da democracia!


A democracia é um dos bens mais preciosos que vêm sendo conquistados no Brasil, de forma lenta, às vezes contraditória, mas progressiva. As eleições, com todos os seus limites, representam um retrato da democracia formal. Trata-se de um momento privilegiado para que as diferenças se contraponham na arena política e assim se construam consensos e novas propostas para o bem do povo brasileiro.

No presente momento, nossa democracia está sendo vergonhosamente desrespeitada. Setores conservadores estão usando um discurso pseudo-religioso, totalmente baseado em falsos moralismos, para influenciar de forma ilegítima o processo eleitoral. Em nome da "defesa da vida", utilizam-se do debate sobre o aborto para fortalecer a influência da religião nos processos políticos, sem se preocuparem com o grave risco que a ilegalidade do aborto causa às mulheres mais pobres.

Irresponsável é o líder religioso que não enxerga a realidade, baseando-se apenas em princípios abstratos que contradizem o autêntico valor da vida, com a plena dignidade que ela deveria ter. Ainda mais irresponsável é o líder político que, amedrontado frente a ameaças eleitoreiras, deixa de comprometer-se com seu dever de chefe de Estado. Um Estado laico deve respeitar todas as religiões, mas jamais pode ser regido por princípios religiosos.

Não é do interesse público o que pensa cada candidato/a sobre o aborto, mas sim o que propõe fazer como estadista, como governante, para enfrentar esse grave problema de saúde pública. Não se trata de que os/as candidatos/as façam declarações afirmando ser contrários ou favoráveis ao aborto, porque essa polarização não permite que avancemos de forma adequada na discussão sobre o tema. Ser "favorável à legalização do aborto" não significa ser "favorável ao aborto", pois é sabido que, se o aborto sair da clandestinidade, sua prática tende a diminuir.

De toda forma, o que está em jogo de fato no atual debate não é o aborto e sim a democracia. Não está havendo um debate social sobre o aborto, mas sim uma utilização escusa do tema, que está sendo realizada de forma maliciosa, astuta e eleitoreira. Trata-se de um jogo sujo, no qual mais uma vez a vida das mulheres serve como moeda de troca!

Queremos que o grave problema do aborto no Brasil seja discutido como uma questão de saúde, este é o seu lugar, e não como um problema policial ou religioso. Não aceitamos que, por trás deste falso debate em torno do aborto, saiam de cena os sérios problemas que devem ser enfrentados: da exclusão social, da injusta distribuição de renda, da violência urbana, do baixo nível educacional, da pobreza, da moradia indigna, da desigualdade entre os gêneros, da violência contra mulheres e das más condições de saúde, entre outros.

Diante dos riscos que corre nossa incipiente democracia, conclamamos todas as forças da sociedade civil, independentemente de crença religiosa ou filiação partidária, para que se manifestem em favor da democracia e em defesa da laicidade do Estado, sem a qual o direito à expressão religiosa não será respeitada. Respeitemos nossa Constituição, sendo fiéis aos seus princípios.

Não vamos permitir que posições ideológicas e políticas, mascaradas por um falso discurso religioso em favor da vida, se imponham de forma desonesta e difamatória a um governo que se pretende verdadeiramente democrático. Não vamos permitir que este processo eleitoral envergonhe nosso país, que tem sido reconhecido internacionalmente como promotor da verdade e da paz.

13 outubro 2010

Frei Betto: Dilma e a fé Cristã

Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária aos princípios do Evangelho e da fé cristã.

Por frei Betto

Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte.

Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.

Anos depois, nos encontramos no presídio Tiradentes, em São Paulo. Ex-aluna de colégio religioso, dirigido por freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava de orações e comentários do Evangelho.

Nada tinha de “marxista ateia”.

Nossos torturadores, sim, praticavam o ateísmo militante ao profanar, com violência, os templos vivos de Deus: as vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.

Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula. De nossa amizade, posso assegurar que não passa de campanha difamatória -diria, terrorista- acusar Dilma Rousseff de “abortista” ou contrária aos princípios evangélicos.

Se um ou outro bispo critica Dilma, há que se lembrar que, por ser bispo, ninguém é dono da verdade.

Nem tem o direito de julgar o foro íntimo do próximo.

Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica.

Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que “a árvore se conhece pelos frutos”, como acentua o Evangelho.

É na coerência de suas ações, na ética de procedimentos políticos e na dedicação ao povo brasileiro que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria fazendas e sítios produtivos; implantaria o socialismo por decreto…

Passados quase oito anos, o que vemos? Um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.

Até o segundo turno, nichos da oposição ao governo Lula haverão de ecoar boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em tudo o que Dilma realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.

Certa vez indagaram a Jesus quem haveria de se salvar. Ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem os que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem quem se julga dono da doutrina cristã e se arvora em juiz de seus semelhantes.

A resposta de Jesus surpreendeu: “Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; oprimido, e me libertastes…” (Mateus 25, 31-46). Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo a opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.

Publicado no Tendências & Debates da Folha de S.Paulo

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=139035

10 outubro 2010

As mulheres que Serra vai mandar prender






Reproduzo importante alerta do jornalista Luiz Carlos Azenha, publicado no blog Viomundo:

O Brasil é um país hipócrita. O aborto, embora ilegal no papel, é prática cotidiana. Mulheres com poder aquisitivo procuram clínicas e hospitais que existem em todas as grandes cidades. Quem não tem dinheiro — e, portanto, acesso aos hospitais — se vira.

Um grave problema de saúde pública. O aborto, na prática, já é descriminalizado. Qual foi a última mulher brasileira que foi parar na cadeia por causa de um aborto?

Ao promover, no Brasil, a aliança político-eleitoral que elegeu Ronald Reagan e George W. Bush nos Estados Unidos — da extrema-direita com religiosos conservadores –, José Serra abre espaço para um futuro preocupante.

Se chegar ao Planalto, será pressionado para colocar na cadeia todas as mulheres que admitiram ter cometido o crime. Será pressionado para fechar hospitais e clínicas, prender médicos e as mulheres de classe média que fizeram aborto.

Eu vi isso acontecer nos Estados Unidos, onde o aborto é legal: fanáticos religiosos cercando clínicas, perseguindo e atacando médicos e pacientes.

É isso o que queremos para o Brasil? Leis ditadas não pelo Congresso, mas por extremistas religiosos que não tiveram um voto sequer?

Repito: para tentar ganhar a eleição, José Serra tomou um caminho lamentável, que ameaça os direitos civis de todos os brasileiros e que contribui para solapar o estado laico.

PS do Viomundo: Todas as clínicas dispõe de arquivos de pacientes. Nos Estados Unidos, era isso o que os fanáticos queriam, ao queimar clínicas: acesso aos arquivos.

Com a colaboração da NovaE e do Escrevinhador, seguem algumas das mulheres que estariam sujeitas a passar de um a três anos na prisão [no topo da página]:

Para além disso, é preciso lembrar que quem combate o aborto jamais teria assinado as normas técnicas para implantá-lo no Sistema Único de Saúde (SUS), como José Serra fez quando ministro da Saúde.

08 outubro 2010

Aiatolá Serra vai apedrejar a Soninha?

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
A Soninha (que já foi da MTV, e era filiada ao PT) hoje é uma das coordenadoras da campanha do Serra. A Soninha – como tantas mulheres – reconhece – na reportagem reproduzida aí no alto – que já fez aborto. Não o fez porque é um monstro irresponsável. Mas porque tantas vezes essa é a única opção para as mulheres. Quem conhece alguém que já abortou sabe do drama que as mulheres - mas também alguns homens – enfrentam nessa hora.
Serra e Soninha, vamos ser honestos, não são fascistas nem fanáticos religiosos – ou não eram. Serra, quando ministro da Saúde, assinou portaria regulamentando aborto no SUS. Só que Serra não tem limites para chegar ao poder. Na tentativa desesperada de ganhar de Dilma, ele se aliou ao que há de mais atrasado no Brasil. Até TFP (seita de extrema direita que é monarquista , contra o divórcio e contra os gays) está apoiando Serra.
Serra, pra ganhar, aposta no atraso, no pensamento mais consevador. Aposta no preconceito contra as mulheres. Serra quer ganhar votos espalhando que Dilma é “abortista, e quer matar criancinhas” (a própria mulher de Serra disse isso num corpo-a-corpo na rua).
Sei que há muita gente, homens e mulheres, que não gosta da Dilma. Gente que até já votou no PT , mas se decepcionou com o PT. Muita gente nessa situação escolheu no primeiro turno Marina, Plinio ou até Serra. Mas será que esse povo quer o atraso no Brasil? Duvido…
Serra, se vencer (e acho que não vence), trará com ele o preconceito, o atraso, a visão de que “gay é pecador” e “mulher está aí pra procriar, não pra decidir sobre sua saúde”.
Serra não era assim. Mas ficou assim. Serra hoje é o atraso. Não é à toa que, no twitter, Serra virou “#aiatoláSerra”.
Coitada da Soninha.