28 janeiro 2010

13 de Janeiro de 2010 - 10h35

Guarulhos não pode virar um “piscinão”

O resultado das fortes chuvas que castigaram a região metropolitana de São Paulo no últimos dias, fez soar uma sirene: Guarulhos não pode virar um “piscinão” de São Paulo. Os temporais também fez suscitar o debate sobre a drenagem em nossa cidade. Diante disso, cabe ao poder público de Guarulhos discutir com mais profundidade o tema drenagem, levando em consideração a interligação fluvial que existe entre a nossa cidade e seus municípios vizinhos. Principalmente com a Capital São Paulo.

Ao falarmos sobre drenagem, mais precisamente sobre o escoamento da água da chuva, não podemos deixar de citar as regiões do Presidente Dutra, Lavras e Vila Any que em pleno aniversário de Guarulhos foram inundadas por enchentes. Na Vila Any, em especial, cerca de 50 famílias ficaram desabrigadas. A volumosa quantidade de água, sem ter para onde fluir, ali estacionou e causou grandes prejuízos e riscos a saúde dos moradores, - infelizmente pessoas simples que não tem como repor o que perderam.
Pretendo, nas linhas que se seguem abaixo, elencar três pontos que aliados a um fluxo maior de chuva, contribuíram para que cidadãos guarulhenses, ao invés de comemorarem os 449 anos de sua cidade, tivessem de se mobilizar na tentativa de não morrerem afogados e salvarem os poucos bens que possuíam.
O primeiro deles envolve a Usina da Traição. Inaugurada em 1940, este equipamento tem como objetivo reverter o curso das águas dos rios Tietê e Pinheiros, para serem encaminhadas à Usina Elevatória de Pedreira e depois ao Reservatório Billings. Na terça-feira 8, a Usina da Traição traiu o governo e principalmente a população, pois a manobra de conversão não foi realizada. É interessante se verificar como vai a manutenção deste complexo.
O segundo ponto trata sobre a Barragem da Penha. Para evitar que uma cheia maior atingisse a Marginal Tietê e bairros em seu entorno, comportas desta barragem foram fechadas. Assim, o refluxo de água de Guarulhos que deveria fluir por dentro de São Paulo retornou e atingiu mais gravemente a Vila Any. “É como se o governo do Estado, por meio do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) tivesse o direito de poupar uma cidade e sacrificar outra”. Resumindo, para aliviar a situação de São Paulo, pois o Rio Tietê já havia recebido grande quantidade de água do Rio Pinheiros, devido a não conversão da Usina da Traição, fecharam de forma fria e cruel comportas da Barragem da Penha.
O terceiro e último fator que agrava a situação envolve o governo do estado e a prefeitura de Arujá. Ambos continuam executando uma obra de canalização, retificação e impermeabilização na montante do Rio Baquirivu aumentando o volume e a velocidade das águas que vêm para Guarulhos.
Deixando rivalidades partidárias de lado, vejo que a Câmara Municipal, local onde atuo como vereadora, deve tratar com urgência estas questões, junto aos deputados estaduais da Frente Parlamentar das Águas da Assembleia Legislativa. Este é um assunto que deve ser resolvido tecnicamente, sem paixões políticas. Temos que considerar, por fim, o desrespeito ao meio ambiente e o pragmatismo desenvolvimentista, desrespeita a áreas naturais de acomodação das águas prejudicando a qualidade de vida dos moradores das grandes cidade.
Luiza Cordeiro, vereadora em Guarulhos, membro do Comitê Estadual do PC do B, e presidente da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Câmara.

26 janeiro 2010

26 de Janeiro de 2010 - 0h44

A São Paulo prodigiosa de Kassab só existe na novela da Globo

Tal como a personagem delirante de Renée Zellweger no filme A Enfermeira Betty (2000), Gilberto Kassab talvez pense viver dentro de uma telenovela. A São Paulo apregoada nos discursos do prefeito — uma metrópole prodigiosa e moderna, imune às intempéries e à politicagem — só pode ser vista, atualmente, em Tempos Modernos, a nova “novela das 7” da TV Globo.
Por André Cintra

Não é preciso passar pelas ruas paulistanas para saber que São Paulo — a “cidade-locomotiva” que “não pode parar” — simplesmente parou. Administrada por um dos piores prefeitos de sua história, a capital paulista mal pôde comemorar seu 456º aniversário, em meio a sucessivos recordes de alagamentos, trânsito e mortes.
Os poucos e atabalhoados depoimentos de Kassab evidenciaram ainda mais o descaso da gestão demo-tucana em São Paulo. Soldado do governador paulista, José Serra, e craque na arte de dar declarações oficiais que serão rapidamente desmentidas pelos fatos, o prefeito orientou a população a “ficar tranquila”. As ações da Prefeitura, segundo ele, “estão surtindo efeito”. O que ocorreu “não foi um caos”, “não houve falhas”.
De duas, uma: ou Kassab precisa pedir licença do cargo por incapacidade mental, ou virou garoto-propaganda da novela da Globo. Viver tranquilamente numa São Paulo sob chuva, sem “falhas” nem “caos”? Só mesmo nessa ficção exibida nos fins de tarde pela emissora da família Marinho, com cenários estilizados e uma São Paulo maquiada.

Uma novela problemática

O autor de Tempos Modernos, Bosco Brasil, invocou sua “grande paixão” pelo Centro para “fazer uma São Paulo linda e limpa”, com uma estética higienizante. Na trama, o cinema pornô situado ao lado da Galeria do Rock foi convertido em cinema de arte, e uma sapataria antiga virou livraria. “Vou mostrar na novela o Centro como eu acho que deveria ser e como pode ser daqui a um tempo”, explicou-se o autor.
Bosco é um dramaturgo de valor — quem viu Novas Diretrizes em Tempos de Paz que o diga. Em princípio, não há nada de errado em sua opção de edulcorar a imagem da região central paulistana, nem no objetivo declarado de “sensibilizar as autoridades de que o Centro precisa ser revitalizado”. Mas uma novela, a exemplo das demais artes narrativas, não vem com bula ou legenda.
Uma vez lançada ao público, a obra se insere em outros contextos e fica sujeita a todo tipo de interpretação. Gillo Pontecorvo formulou A Batalha de Argel (1966) como um libelo libertário, antiguerra. Nunca poderia imaginar que, sob o governo de George W.Bush, o Pentágono recomendaria a exibição do longa para inspirar os soldados americanos no Iraque. O brasileiro Tropa de Elite (2007) foi planejado como filme-denúncia contra o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), mas tinha tantas imprecisões e ambiguidades que acabou tachado de “fascista”.
Da mesma forma, Tempos Modernos, lançada neste estratégico ano eleitoral de 2010, se assenta como uma luva na propaganda eleitoral demo-tucana em São Paulo. “Podem me chamar de ingênuo ou até desinformado, mas considero que o cenário retocado, limpo, do centro de São Paulo apresentado em Tempos Modernos (...) está muito longe do real — mas tem tudo para ser o nosso futuro. A emissora talvez esteja apenas antecipando o que vamos ser”, escreveu Gilberto Dimenstein, o mais tucano dos jornalistas da grande mídia.
Fator cracolândia

Que a novela tenha êxito e aqueça as boas iniciativas de recuperação da cidade. Mas não será no atual governo que São Paulo e seu Centro vão se revitalizar. Desde que herdou a Prefeitura de José Serra, Kassab acumula uma gestão deserta de ousadia e paupérrima de ideias. Para muitos dilemas crônicos da cidade, a gestão, sob uma austeridade de fachada, aposta em pressupostos e medidas que chegam a ser primários.
A política de combate à cracolândia é um exemplo disso. Em outubro de 2007, Kassab anunciou o fim repentino da maior “boca de fumo” de São Paulo, pela qual passavam cerca de 2 mil usuários de crack por dia. “Não existe mais a velha cracolândia deteriorada, a serviço da droga, a serviço do crime. Cada vez mais essa é uma página virada na história de São Paulo”, discursou ele em meio à implantação do Nova Luz — uma iniciativa essencialmente privatista, embalada como projeto de revitalização do Centro.
Mas a cracolândia, em operação há mais de 20 anos, não apenas se expandiu por mais e mais ruas do Centro como também levou a Prefeitura a postergar a implantação do Nova Luz. Com a falência da Operação Cracolândia, Kassab se viu forçado a lançar outro plano — o Centro Legal —, que autorizou 20 órgãos públicos a agirem em conjunto no combate ao tráfico de crack. Até aqui, devido à falta de coordenação e aos resultados pífios, trata-se de uma nova catástrofe.
Enquanto ouve promessas de revitalização, a população do Centro despencou de 411 mil habitantes em 1996 para 328,5 mil em 2008. A região, entretanto, concentra metade dos 8 mil moradores de ruas contabilizados pela Prefeitura. No caos que tomou São Paulo após as chuvas de dezembro e janeiro, as ruas centrais foram ainda as que mais registraram novos pontos de alagamento.
Dos "prefeitos biônicos" aos prefeitos-ventríloquos

Se Kassab foi malsucedido até nessa região mais privilegiada — e prioritária em seu governo —, pouca expectativa sobra para os moradores da periferia, que são os mais prejudicados pelo caos da cidade. A queda de aprovação do prefeito (de 46% em 2008 para 28% em 2009, conforme o Ibope) é um indício de que os paulistanos estão mais atentos à sua realidade e desconfiados das promessas do Executivo municipal. O que dizer, então, dos 57% que, segundo a mesma pesquisa, admitem que deixariam a cidade se pudessem?
Vai ficando cada vez mais evidenciado que a gestão demo-tucana faz mal para São Paulo e para os paulistanos. A relação Serra-Kassab faz lembrar os chamados “prefeitos biônicos” — que eram nomeados de acordo com os interesses da ditadura militar (1964-1985) e atuavam estritamente de acordo com o regime. Um dos mandatários daquele tipo, o engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz, chegou a ser exonerado pelo governador Laudo Natel apenas por declarar que São Paulo sofria de “encefalite urbana” e precisava “parar de crescer”.
O expediente do prefeito biônico é coisa do passado — mas, em São Paulo, foi substituído pelo prefeito-ventríloquo Kassab, incapaz de tomar uma medida sequer sem o aval do governador e presidenciável Serra. A cidade segue sem planejamento, e não há drama humano — real ou fictício — que comova os atuais governantes. São Paulo parou não porque precisava parar, mas, sim, porque ficou nas mãos de administradores duvidosos.
Oxalá mesmo que a metrópole de Tempos Modernos vire realidade. Antes dessa transformação, porém, é mais provável que a credibilidade da gestão demo-tucana seja dilapidada pelas enchentes paulistanas. Depois de sofrer da síndrome da enfermeira Betty, Kassab talvez se esqueça de novela e acabe mesmo como o “velho marinheiro” de Samuel Taylor Coleridge: “Ah, sozinho, sozinho, inteiramente só, num largo, largo mar”.

fonte: Vermelho.org

25 de Janeiro de 2010 - 12h58

Mídia dos EUA bloqueia notícias sobre ajuda de Cuba ao Haiti

Nos críticos primeiros dias após o terremoto que abalou o Haiti apenas duas agências de notícias norteamericanas relataram a rápida resposta cubana para a crise. Uma delas foi a Fox News, que afirmou, erradamente, que os cubanos estavam ausentes da lista dos países caribenhos vizinhos que tinha prestado assistência.
Por Dave Lindorff, no Rebelión

O outro meio foi The Christian Science Monitor (uma respeitada agência de notícias que recentemente fechou sua edição impressa), que comunicou, corretamente, que Cuba enviou 30 médicos para o Haiti.
The Christian Science Monitor, num segundo artigo, citava a Laurence Korb, ex-subsecretário da Defesa e atualmente membro do Center for American Progress, que declarou que os EUA, que lideravam os esforços de ajuda no Haiti, deveriam "pensar em aproveitar os conhecimentos da vizinha Cuba". Assinalou também que “tem alguns dos melhores médicos do mundo – deveríamos tratar de enviá-los para o Haiti”.
No que se refere aos demais meios de comunicação dos EUA, simplesmente ignoraram a Cuba.
Na verdade, omitiram-se ao não informar que Cuba já tinha cerca de 400 médicos, paramédicos e outros profissionais de saúde enviados ao Haiti para ajudar no dia-a-dia das necessidades sanitárias do país mais pobre das Américas, e que esses profissionais foram os primeiros a responder ao desastre levantando um hospital, justamente ao lado do principal hospital de Porto Príncipe derrubado pelo terremoto, assim como um segundo hospital de campanha em outra parte da cidade.
Longe de "não fazer nada" depois do desastre, como afirma a propaganda direitista da Fox-TV, Cuba tem sido um dos países que reagiram de modo mais eficiente e crucial nesta crise, pois mesmo antes do terremoto já havia criado um infraestrutura médica que foi capaz de se mobilizar rapidamente para começar imediatamente a tratar as vítimas.
Como era de se prever, a resposta de emergência norteamericana concentrou-se, principalmente, pelo menos em termos de pessoal e dinheiro, no envio da enormemente cara e ineficiente máquina militar – uma frota de aviões e um porta-aviões –, um fator que deve ser levado em conta ao examinar os 100 milhões de dólares que a administração Obama diz ter destinado para a ajuda de emergência ao Haiti.
Tendo em conta que o custo operacional de um porta-aviões, incluindo a tripulação, é de aproximadamente 2 milhões de dólares por dia, somente o envio de uma companhia a Porto Príncipe, durante duas semanas, vai consumir um quarto da anunciada ajuda norteamericana e, embora muitos dos soldados enviados certamente trabalharão na ajuda, distribuindo e custodiando suprimentos, a longa história de brutal controle militar/colonial do Haiti, inevitavelmente leva a temer que outros soldados tenham a missão de assegurar a sobrevivência e controle da elite de políticos haitianos parasitas pró-EUA.
Por outro lado, os EUA têm ignorado o dia-a-dia da permanente crise humanitária no Haiti, enquanto Cuba vem fazendo o trabalho de proporcionar atenção sanitária básica.
Não que fosse difícil encontrar cubanos em Porto Príncipe. Democracy Now! dispunha de um relatório, assim como o dispunha a revista Noticias de Cuba, com sede em Washington. O que acontece é que contar as boas ações de um país pobre e orgulhosamente comunista aos norte-americanos não é algo que os meios de comunicação corporativos daquele país estejam dispostos a fazer.
Fonte: Rebelión

17 janeiro 2010

América Latina

16 de Janeiro de 2010 - 18h58

Fidel Castro: o Haiti é "uma vergonha de nossa época"

O líder cubano Fidel Castro pediu soluções reais e verdadeiras para o Haiti — cuja situação de extrema pobreza, segundo ele, é “uma vergonha de nossa época”. Em artigo intitulado “A lição do Haiti” e publicado nesta sexta-feira (15) no jornal Granma, do Comitê Central do Partido Comunista Cubano, Fidel criticando as reações internacionais ao terremoto no país caribenho.

Em sua opinião, a tragédia no país vizinho, apesar de comover as pessoas, não leva à reflexão sobre os reais motivos da pobreza haitiana. Fidel lembra que o povo haitiano levou a cabo a “primeira grande revolução social do hemisfério sul” — “em que 400 mil escravos africanos, traficados pelos europeus, se rebelaram contra o domínio de 30 mil senhores feudais, donos de plantações de cana e café”.
Para Fidel, o país mais pobre da América foi alvo de um imperialismo desatado, que saqueou suas riquezas. “O Haiti é um produto do colonialismo e imperialismo, de mais de um século de emprego de seus recursos humanos nos trabalhos mais duros, das intervenções militares e extração de suas riquezas.”
O líder cubano, de 83 anos, acrescentou que a catástrofe que ocorreu nesse país “é apenas uma pálida sombra do que pode acontecer no planeta com a mudança climática”. E disparou: “O Haiti hoje constitui uma vergonha de nossa época, de um mundo onde prevalecem a exploração e o saque da imensa maioria dos habitantes do planeta”.
“Situações como a desse país não deveriam existir em nenhum lugar da Terra, onde abundam dezenas de milhares de cidades e povoados em condições similares e, às vezes, piores, em virtude de uma ordem econômica e política internacional injusta imposta ao mundo”, enfatizou Fidel.
Mais cedo, os Estados Unidos anunciaram que obtiveram o consentimento das autoridades cubanas para utilizar seu espaço aéreo a fim de acelerar a chegada de ajuda ao Haiti. “Coordenamos com as autoridades cubanas a autorização para fazer voos de evacuação médica a partir da base americana de Guantánamo para Miami, Flórida, economizando 90 minutos por voo”, declarou a Casa Branca em um comunicado.