15 setembro 2008

2 DE SETEMBRO DE 2008 - 10h29
Para 'O Globo', a favela cresceu porque quis crescer

Reportagem de O Globo Online do dia 25 de agosto sobre os aluguéis nas favelas do Rio traz também uma chamada com o título “Veja como foi a evolução da população das favelas no Rio”. Na realidade, ao acessar o link, o leitor terá acesso a um estudo referente à favela da Rocinha.
Um PowerPoint feito pelo Instituto Pereira Passos mostra o tamanho da área da favela em cinco anos diferentes. O que O Globo não faz é a ligação entre essas datas e a situação política do país.

O primeiro ano é 1975. Percebe-se que entre 1975 e 1985 houve a maior expansão em dez anos, já que entre 1985 e 1996 a expansão foi menor. O ritmo acelerado continua entre 1996 e 1999, apenas quatro anos e um considerável aumento da área.

O que O Globo não faz é a ligação entre essas datas e a situação política do país. Fazendo um pequeno exercício de memória recordamos que em 1975 o Brasil estava em plena ditadura militar, ainda no governo Geisel, um dos períodos mais duros.

O mesmo jornal que naquela época era cúmplice do regime militar não mostra agora que não era política daquele governo, como também não foi da maioria dos outros de lá para cá, políticas de habitação, saúde, educação. Não correspondia ao poder público garantir os direitos básicos, mas sim, em sintonia com as oligarquias regionais, ser o estado da violência e da opressão.

Já em 1996 e 1999, quem é que governava o Brasil? Fernando Henrique Cardoso no primeiro e segundo mandatos. As privatizações se intensificam. No Rio, a doação da Banerj ao capital privado internacional. A então Vale do Rio Doce, considerada uma das “jóias da coroa do patrimônio público brasileiro” também é privatizada. A precarização do trabalho aumenta, ao mesmo ritmo do trabalho informal. Será que nada disso tem a ver com a expansão da favela da Rocinha e todas as outras?

Nessa fértil época de barbaridades eleitoreiras de todo o tipo surgem candidatos prometendo o fim das favelas. Estes repetem a grande mídia que em coro criminaliza os moradores desses espaços. Quem observa os slides de O Globo Online, se despercebido, coloca facilmente a “culpa” de tamanho crescimento da ocupação “desordenada” nos próprios moradores.

Entretanto, o que não mostra a reportagem é que para alguns terem seus luxuosos apartamentos na zona sul outros precisam ir morar nas favelas, ainda que estejam lado a lado. E aí o que a grande mídia precisa entender é que muito além de tiroteio, tráfico e milícia, depois que esses trabalhadores criam a favela começa a existir memória, história, festa. Você gostaria que te removessem de onde você nasceu, cresceu, namorou, criou seus filhos?

A velha mania capitalista de transformar tudo em coisa. Remover a favela. Como se a favela fosse um simples objeto de brinquedo daquelas casinhas de playmobil que as crianças montam e desmontam, criam e recriam a seu gosto. A ignorância dos pequenos é muito mais saudável do que a da gente grande burguesa.

Fonte: Núcleo Piratininga de Comunicação